Mudanças no funcionamento da Organização das Nações Unidas, a começar pelo fim da dependência financeira, pelo aumento do número de países no Conselho de Segurança, pela extinção do poder individual de veto, pela eleição de representantes para o Parlamento Mundial e pelo atrelamento à ONU de organismos como Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio (OMC). Esta é a discussão que irá marcar a quinta-feira da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Para Cândido Grzybowski, diretor-geral do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), organização não governamental fundada por Betinho, este é o momento oportuno para a discussão sobre uma reforma geral no funcionamento da ONU. De acordo com ele, principalmente para permitir que o organismo deixe de ser dependente financeiramente dos Estados Unidos. E também dos cinco países que integram permanentemente o conselho de segurança, em termos de veto. "Existem algumas iniciativas oficiais neste sentido, mas as propostas da sociedade civil são mais radicais do que elas", disse. O tema sobre a necessidade da reforma da ONU e dos órgãos relacionados, como FMI, OMC e Banco Mundial, está com discussão centralizada na agenda desta quinta-feira, principalmente, no Fórum da Sociedade Civil. Grzybowski lembra que "apesar do nome, a ONU não é de nações, mas de governos". Portanto, segundo ele, é preciso que a humanidade caminhe na criação de um Parlamento mundial, com eleições diretas e números de representantes de acordo com a população, com poder de decisão dentro da estrutura da própria ONU. "Da forma como está a ONU não existe uma representação da cidadania porque até os ditadores tem espaço garantido e se acham representantes, enquanto os Congressos Nacionais são obrigados a ratificar acordos que os governos fazem, sem terem participado das discussões", comenta Grzybowski. A tese defendida pelas principais Organizações não-Governamentais (ONGs) presentes na XI Unctad é contrária à defendida pela União inter-Parlamentar, também reunida em São Paulo, a qual defende que os próprios parlamentos mandem seus representantes para a ONU. "A nossa idéia é a de eleger diretamente, em todos os países, os representantes para este Parlamento Mundial", disse o diretor do IBASE. Mas ele alerta para a necessidade do que chamou de "contrapeso", mantendo a assembléia dos governos para evitar que "o Parlamento vire um super poder, exagerado". Outro ponto a ser apresentado pela sociedade civil reunida nesta XI Unctad é o fim do poder particular de veto que cinco países possuem na ONU, bem como o aumento do número de participantes no Conselho Permanente de Segurança. "Isto é antidemocrático na sua essência e tem que acabar", defende o diretor do IBASE. De acordo com ele, o poder de veto deve ficar com a maioria, através da Assembléia Geral da ONU. Esse argumento o leva a ser contrário à entrada, neste esquema atual, de Brasil, Índia e África do Sul. "Não me parece a melhor solução, embora tenha que ser mexido, de alguma forma", comentou. O Fórum da Sociedade Civil discute nesta quinta-feira (17) o tema da reforma da ONU, criação do Parlamento Mundial, reforma do Conselho de Segurança e um novo estatuto para o Conselho Social e Econômico. Às 11h30m, haverá mesa redonda: direitos dos povos para o desenvolvimento e o sistema de governança global. Representantes dos Banco Mundial, FMI darão suas explicações, às 14h30m. Às 16 horas, a reunião será sobre os próximos passos no Fórum Social das Américas (julho), Fórum Social do Chile (novembro) Fórum Social Europeu (outubro) e Forum Social Mundial (Porto Alegre, janeiro).
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