Em 1976 quando Millor Fernandes traduziu “De volta ao Lar” de Harold Pinter foi duramente criticado pelo uso de palavrões num texto teatral. Plínio Marcos há anos vinha amargando a pecha de maldito pelos palavrões usados em “Navalha na carne” de 1967. Naquela época Millôr Fernandes encerrou a polêmica com uma bela entrevista nas amarelinhas da revista “Veja”. A partir daí Millôr foi eleito defensor do palavrão com textos distribuídos até hoje pela internet como sendo de sua autoria. Na verdade Millôr defendeu e defende a liberdade da língua, pois segundo ele, a língua verdadeira é dinâmica, nasce com o povo, está com o povo e se transmuta com o povo. Os dicionários são os cemitérios das palavras. - Gosto tanto quando você chupa assim! Chupa mais, chupa mais! Millôr usou esta frase naquele artigo e a despeito do que se pode imaginar é o diálogo de uma vovó com o seu netinho chupando manga. A conotação é de cada um. - Cafezinho bom, né? - É mas no coador é melhor. - To fora! Prefiro café de máquina e nem quero saber onde a dor é melhor. Como disse o Millôr, vai de cada um. Sempre me lembro da velha turma de São Paulo, lá pelos meus vinte anos a nossa turma se encontrava todas semanas. Fosse para um cineminha, um teatro ou se reunir na casa de alguém para comer e beber o que cada um levava como colaboração. Éramos todos estudantes, cujo único compromisso era a amizade e a alegria do encontro. Beth fazia parte, era uma menina toda certinha, arrumadinha e cheia dos dotes culinários. Certa vez, num dos jantares, Beth levou uma torta salgada que ficou esquecida na cozinha, fomos lembrar muito tempo após o jantar. Ela ficou ofendida com o desprezo. Ary era um comilão de marca maior. Todo mundo já estava satisfeito, mas ele foi comer a torta da Beth na cozinha. Parece que não foi só na cozinha que o Ary comeu a torta da Beth, fisgado pelo estomago, deu a maior confusão quando a certinha da Beth apareceu grávida. Ary namorava a Cida que era uma pessoa pacata e sossegada, revoltada com a traição, arrebentou o fusquinha branco do Ary. Naquela época eu namorava a Eliana que estudava arquitetura e praticava tae kon do, ainda bem que eu não comi a torta da Beth.
Nota do Editor: Carlos Augusto Rizzo mora em Ubatuba desde 1980, sendo marceneiro e escritor. Como escritor, publicou "Vocabulário Tupi-guarani", "O Falar Caiçara" em parceria com João Barreto e "Checklist to Birdwatching". Montou uma pequena editora que vem publicando suas obras e as de outros autores.
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