As mulheres brasileiras estudam, em média, um ano a mais que os homens. Mesmo assim, continuam ocupando cargos de nível secundário e ganhando salários menores que seus colegas do sexo masculino. O retrato foi traçado pela Síntese de Indicadores Sociais, divulgada dia 12 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A veterinária Tânia Guimarães de Souza, de 44 anos, decidiu abandonar a profissão depois de dois anos por causa dos rendimentos baixos e foi trabalhar como secretária por um salário mais alto. Passados 20 anos, ela diz que não se arrepende da opção, mas que em relação aos homens as desigualdades são evidentes. "Eu acho que as mulheres têm mais oportunidades de trabalho, mas a chance delas crescerem em uma empresa são bem menores. Já passei por várias empresas e vejo que as mulheres são colocadas em níveis mais baixos, talvez por uma cultura machista dos diretores das empresas ou porque a própria mulher se coloca em uma posição inferior", acrescentou. Tânia enfatizou que a mulher muitas vezes perde oportunidade de promoção no trabalho porque se recusa "a fazer favores para o chefe". Ela lembrou que passou por uma experiência semelhante "ao se livrar do assédio sexual de um chefe, perder a chance de ser promovida e ter o salário aumentado". Ainda segundo a pesquisa, as desigualdades em relação aos homens continuam dentro de casa. Mesmo depois de cumprir uma jornada de trabalho fora de casa, a mulher gasta mais 4,4 horas cuidando da casa, enquanto que o homem dedica apenas duas horas para os afazeres domésticos. Maioria das mulheres trabalhadoras tem dupla jornada, constata IBGE Além de constatar o peso da dupla jornada, a pesquisa do IBGE mostra que as mulheres são responsáveis por 16,8 milhões de lares brasileiros, quase 30% do total dos 56,1 milhões de famílias pesquisadas. A maior proporção das mulheres chefes de família estava na faixa etária dos 60 anos ou mais (27,4%), enquanto entre os homens, 35,3% dos responsáveis pela família tinham entre 25 e 39 anos de idade. O Rio de Janeiro tinha a maior porcentagem de mulheres de 60 anos ou mais entre as chefes de família (33,9%), mas a região Nordeste foi a que apresentou o maior número de famílias chefiadas por mulheres (29,3%), com destaque para Pernambuco, com 31,6%. Entre as famílias com chefia masculina, 25,1% viviam com um rendimento familiar de até meio salário mínimo per capita, enquanto nas chefiadas por mulheres essa proporção subia para 29,6%. O estudo divulgado pelo IBGE usa como referência dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2004 (Pnad).
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